Há algum tempo a nossa política externa tem incomodado os especialistas e a opinião pública por conta de inegáveis consequências negativas para o nosso país. Um país que há décadas vinha sendo considerado nas disputas internacionais como dotado de uma concepção e um corpo profissional de diplomatas afinados com o espírito que norteia as ações da ONU, passa a ser olhado com desconfiança.
E da desconfiança para o isolamento é um passo, digo isolamento em relação às nações democráticas.
Desde que se tornou uma obsessão de Lula e seu governo colocar o Brasil como titular do Conselho de Segurança da ONU ou ele próprio secretário-geral da ONU, nossa política externa sofreu uma importante inflexão marqueteira, em busca de feitos inéditos e da simpatia de regimes de caráter discutível.
Em nosso continente, assume uma política marcadamente ideológica, aliando-se aos devaneios voluntaristas do assim chamado socialismo bolivariano do coronel Chávez, da Venezuela, chegando a subordinar nossos interesses de nação soberana aos interesses deste, como ficou claro no desentendimento havido entre Venezuela e Colômbia, quando se chegou à ameaça de confrontação armada.
No mesmo diapasão, assistimos a embaixada brasileira em Honduras, contrariando os mais elementares procedimentos diplomáticos, postar-se a serviço de um presidente afastado pela Justiça de seu país, Manuel Zelaya, e intrometendo-se nos destinos de uma nação soberana.
Não contente com essas e outras proezas, em visita a Cuba, quando um dissidente político, Orlando Zapata, foi morto por conta de uma greve de fome, Lula acusou o morto por ter radicalizado sua forma de protesto, silenciou sobre a falta de liberdade naquele país, e se recusou a intermediar apelos dos dissidentes.
Numa inadmissível insensatez, chegou a comparar presos políticos ou de consciência de lá com criminosos comuns de cá.
Enquanto protagoniza essa patuscada internacional, a representação do Brasil na ONU mantém um silêncio constrangedor na condenação a violação dos direitos humanos seja de que latitude for, mas especialmente se for de regime ideologicamente simpático.
Tal silêncio obsequioso do Brasil frente a países que atentam contra a dignidade humana representa um apoio velado a governos autoritários, muitos condenados pela consciência democrática da comunidade internacional.
Como agora, no Irã, com a proibição da Frente da Participação Islâmica do Irã, do ex-presidente Mohammad Khatami, e a detenção de centenas de reformistas, julgados, alguns condenados à morte, em meio à repressão contra manifestações iniciadas em junho, após suspeitas de fraude na eleição presidencial.
O que haveria por trás dessa relação fraternal com Mahmoud Ahmadinejad? Talvez seja esta a demonstração cabal da subordinação de nossa chancelaria a pressupostos que nada têm a ver com a defesa dos interesses nacionais e dos valores democráticos expressos na nossa Constituição.
* Roberto Freire é presidente nacional do PPS
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