quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

POLÍTICA EXTERNA PETISTA

Autor(es): Demétrio Magnoli
O Estado de S. Paulo - 31/01/2013
 
Lula sabe mais que os "intelectuais progressistas" reu­nidos em seu insti­tuto para, nas pala­vras do assessor Luiz Dulci, "definir um plano de trabalho para o desenvolvimen­to e integraÇão" da América Lati­na. Há muito reduzidos à condi­ção de intelectuais palacianos, os convidados celebraram os "avanços" na integração regio­nal e a miraculosa clarividência do ex-presidente. O anfitrião, contudo, pediu-lhes algo dife­rente da bajulação habitual: a formulação de uma "doutrina" da integração latino-americana. No 11.° ano de poder lulista, o pedido traz implícito o reconhe­cimento de um fracasso estron­doso de política externa - e da crise regional que se avizinha. "Não tem explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugu­rar a primeira ponte entre Bra­sil e Bolívia; não tem explicação, depois de mais de 500 anos, eu inaugurar a primeira ponte en­tre Brasil e Peru", proclamou o ex-presidente, sem ser corrigi­do por nenhum dos intelectuais que decoravam o ambiente. O trem inaugural da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré che­gou a Guajará-Mirim em abril de 1912. Os presidentes Café Fi­lho e Paz Estenssoro inaugura­ram a Estrada de Ferro Brasil- Bolívia, em Santa Cruz de La Sierra, em janeiro de, 1955. A Ponte da Amizade, sobre o Rio Paraná, uma ousada obra de en­genharia, foi inaugurada em 1965, conectando o Paraguai às rodovias brasileiras e ao Porto de Paranaguá. As pontes que Lu­la inaugurou estavam previstas na Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), aprovada na conferência de chefes de Es­tado de Brasília, em 2000, no governo FHC. De lá para cá, sob o lulismo, integração regional converteu-se em eufemismo pa­ra alianças políticas entre governantes "progressistas". Desde 2003, com a nomea­ção de Marco Aurélio Garcia co­mo assessor especial da Presi­dência, a política brasileira pa­ra a América Latina foi transfe­rida da alçada do Itamaraty para a do lulopetismo, impregnan­do-se de reminiscêricias políti­cas antiamericanas, terceiro-mundistas e castristas. O co­quetel conduziu-nos ao irnpasse atual, que Lula é capaz de identificar mesmo se tenta disfarçá-lo pelo recurso à bazófia autocongratulatória. A "Doutrina Garcia" rejeita a ideia de livre-comércio, que fun­cionou como pilar original do Mercosul. A Argentina dos Kirchners aproveitou-se disso para violar sistematicamente as regras do Mercosul, desmontando o edifício da zona de livre-comércio. No seu instituto, Lula denunciou a "preocupação maior de relação preferencial com os EUA ou com a Europa ou com qualquer um, menos entre nós mesmos". Entretanto, na celebrada última década, a América Latina não aprofundou o comércio intrarregional, limitando-se a estabelecer uma "relação preferencial" com a China, que absorve nossas ex­portações de commodities. O primitivismo ideológico impe­de até mesmo a conclusão de um tratado comercial Brasil-México, elemento indispensá­vel em qualquer projeto de inte­gração latino-americana. A "Doutrina Garcia" acalenta a utopia de uma integração im­pulsionada por investimentos estatais e de grandes empresas financiadas por recursos públi­cos. Contudo a estratégia de ex­pansão regional do "capitalis­mo de Estado" brasileiro esbar­rou nas resistências nacionalistas de argentinos, bolivianos e equatorianos, que assestaram sucessivos golpes em negócios conduzidos pela Petrobrás e por construtoras beneficiadas por empréstimos privilegiados do BNDES. Numa dessas amar­gas ironias da História, o espec­tro do "imperialismo brasilei­ro" reemergiu como acusação dirigida por líderes latino-americanos "progressistas" contra o governo "progressista" de Lula. A "Doutrina Garcia" almeja promover a liderança regional do Brasil, preservar o regime au­toritário cubano e erguer uma barreira geopolítíca entre Améri­ca Latina e EUA. Em busca da primeira meta, o Brasil colidiu com as pretensões concorren­tes da Venezuela de Hugo Chávez, que criou a Aliança Bolivariana das Américas (Alba). A con­corrência entre o lulopetismo e o chavismo paralisa a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), esvaziando de conteúdo suas reuniões de cúpula. Em busca das outras duas metas, que compartilha com o chavismo, o Brasil ajudou a converter a Co­munidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) numa ferramenta de prote­ção da ditadura castrista e de des­moralização da Carta Democrá­tica da Organização dos Estados Americanos (OEA). Dias atrás, Cristina Kirchner definiu a as­censão de Cuba à presidência ro­tativa da Celac como o marco de "uma nova época na América La­tina". Ela tem razão: é o fim da curta época na qual os Estados da região levaram a sério seus proclamados compromissos com os direitos humanos e as li­berdades públicas. Distraídos, os intelectuais pa­lacianos nada perceberam, mas a falência da "Doutrina Garcia" foi registrada no radar de Lula. De um lado, abaixo do celofane brilhante da Unasul e da Celac, desenvolve-se um processo que deveria ser batizado como a de­sintegração da América Latina. A principal evidência disso se en­contra na emergência da Alian­ça do Pacífico, uma área de livre-comércio formada sem alarido por México, Colômbia, Chile e Peru, aos quais podem se juntar o Panamá e outros países centro- americanos. De outro, lenta, mas inexoravelmente, desmoro­na a ordem castrista em Cuba, aproxima-se uma incerta transi­ção na Venezuela chavista e dissolve-se o consenso político kirchnerista na Argentina. Quando clama por uma nova "doutrina" da integração latino-americana, o ex-presidente reve­la aguda consciência da encruzilhada em que se colocou a políti­ca externa brasileira. A consciência de um proble­ma é condição necessária, mas não suficiente, para formular suas possíveis soluções. Lula e seu cortejo de intelectuais não encontrarão uma "doutrina" substituta sem lançar ao mar o lastro de anacronismos ideoló­gicos do lulopetismo

Um comentário:

  1. O PT É PARCEIRO DE NARCOTRAFICANTES, DO CHÁVEZ, DO ÍNDIO COCALEIRO, DO PADRE REPRODUTOR DERRUBADO, DOS IRMÃOS CASTROS E DO FANÁTICO RELIGIOSO DO IRÃ. É POR ISSO QUE O BRASIL NAO TEM MAIS SOLUÇÃO. SÓ APÓS O PRÓXIMO DILÚVIO PARA CONSERTAR TUDO ISSO. A BEM DA VERDADE, SE NAO FORMOS DESCOBERTOS POR BANDIDOS BARBUDOS, DEGREDADOS, MENSALEIROS, PETISTAS OU ENTÃO UM HONORIS CAUSA DO DEDO CORTADO...

    ResponderExcluir

O ESTADO POLICIAL AVANÇA - RAFAEL BRASIL

O estado policial do consórcio PT STF avança contra a oposição. Desde a semana passada, dois deputados federais tiveram "visitas" ...