terça-feira, 25 de junho de 2013

CLÓVIS ROSSI - CHAMEM O BEPPE GRILLO

Chamem o Beppe Grillo - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 25/06

Proposta de assembleia exclusiva para reforma política é a única capaz de domar a "casta"

A presidente Dilma Rousseff cravou ontem o último prego no caixão do sistema partidário brasileiro, ao sugerir um plebiscito para convocar uma assembleia exclusiva para tratar da reforma política.

Embora faltem detalhes, como é natural em se tratando de uma decisão tomada às pressas, para responder à pressão da rua, parece óbvio que os atuais parlamentares não participarão da reforma. Se eles pudessem fazer uma reforma séria, não seria preciso convocar coisa alguma. O Congresso atual bastaria para fazê-la.

Trata-se do reconhecimento da mais alta autoridade da República de que os protestos em curso são "uma manifestação a mais da crise mundial da democracia representativa", como escreveu ontem o embaixador Rubens Ricupero.

Aqui mesmo, domingo retrasado, tratei do tema, sob o título "O fracasso da democracia" (http://folha.com/no1295954).

É saudável que Dilma assuma agora a necessidade de uma ampla reforma política, que jamais será feita pelo sistema atual, voltado exclusivamente para seus próprios interesses, nem sempre legais.

Cabe toda uma discussão a respeito do que deveria entrar na reforma política, mas, para enlaçar o tema com os protestos, sugiro que os descontentes com o sistema atual prestem atenção ao que aconteceu na Itália.

Lá, os partidos que ajudaram o país a sair dos escombros da Segunda Guerra Mundial para a posição de sexta potência do planeta em um prazo relativamente curto implodiram nos anos 90, sem que a democracia implodisse junto. Ao contrário, a Itália é de tremenda vitalidade, do que dá prova o surgimento do M5S (Movimento 5 Estrelas), liderado por um cômico, Beppe Grillo.

Nasceu e cresceu na internet, como as manifestações deste junho brasileiro, mas ganhou as ruas na campanha eleitoral do início deste ano, tendo como centro de seu programa a crítica demolidora aos partidos políticos convencionais, de direita ou de esquerda.

Com essas características, deu o passo que talvez o Movimento Passe Livre e seus primos devessem dar em algum momento: jogou-se às urnas e delas saiu com um quarto dos sufrágios, como o partido isoladamente mais votado. Só perdeu para coligações, as de centro-esquerda e de centro-direita.

O momento ideal para isso seria, em tese, a assembleia exclusiva para a reforma política. Mas, antes dela, é fundamental impedir que a "casta", como os italianos chamam a sua classe política, anestesie o impulso reformista que a presidente assumiu ontem.

É escandalosamente óbvio que os partidos políticos existentes farão o possível, o impossível e o indevido para bloquear qualquer reforma que reduza --ou, preferencialmente, elimine-- privilégios absurdos que foram construindo com o tempo.

Só temem a pressão vinda das ruas porque sabem que, entre eles, mesmo que sejam adversários, são perfeitamente capazes de se entender, como dão prova as espúrias alianças formadas pelos presidentes oriundos do PSDB primeiro e do PT depois.

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