sexta-feira, 30 de agosto de 2013

LUCINHA PEIXOTO: 'TRATANDO A ESCRAVIDÃO COM EDUCAÇÃO'


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Tratando a escravidão com educação




É muito difícil mudar de assunto quando vemos a lambança que o programa Mais Médicos já causa e vai causar neste país. Hoje soube de mais uma: Os prefeitos estão demitindo médicos para pegar médicos estrangeiros paridos pelo governo federal. Como todos estão com a corda no pescoço pela queda do FPM e acuados pela Lei de Responsabilidade Fiscal, querem é se safar e fazer a substituição do médico que eles vinha pagando, pelos médicos do programa.

Isto é apenas um dos efeitos colaterais que pode tornar o Mais Médicos em Menos Médicos, que a pressa ao implementá-lo não deixou levar em conta. Existem outros ainda, de caráter legal, mas, o principal é o de caráter moral em relação aos cubanos. Como dizia o Stanislau Ponte Preta, foi proclamada a escravidão, ou pelos menos referendada a escravidão cubana. Uma verdadeira vergonha.

E temos que continuar a criticar como dever cívico. Numa destas minhas idas ao Facebook, rede do qual estou tentando manter distância devido ao seu poder viciante (mas, não resisto), encontrei uma carta de um médico (original aqui), na qual ele diz verdades contundentes, com a educação que todos deveriam ter com os médicos estrangeiros, mostrando que, nossos médicos podem ser educados, e ao mesmo tempo estão empenhados em resolver os problemas de saúde no país. Quem não quer resolvê-los é o Padilha. Quer apenas ser governador de São Paulo.

Eu, que não sou médica, é que digo, sejam bem-vindos os estrangeiros, mas, devemos ter cuidados com os discursos dos cubanos de que vem é “por amor”. Isto não passa de pregação ideológica do regime cubano, e que temos que ficar espertos para suas consequências junto à população. Mas, por hoje fiquemos com educação do Dr. Rodrigo Lima:

“Carta a um médico estrangeiro

Olá, colega. Seja bem-vindo.

Soube que vocês andam preocupados com a recepção que terão por parte de nós, médicos brasileiros.

Imagino que vocês saibam que o Brasil é um país que sempre recebe bem os que buscam contribuir com nossa sociedade. Os japoneses, italianos, alemães, libaneses, entre outras nacionalidades que compõem nossa sociedade podem testemunhar a nosso favor. Não temos conflitos internos que envolvam grupos étnicos, não nos envolvemos em conflitos externos e jamais fomos xenófobos. Pelo contrário. Então fiquem tranquilos, o povo brasileiro os receberá muito bem.

Talvez minha fala não seja muito convincente quando comparada com o que as entidades médicas brasileiras têm dito sobre vocês. Saibam que a maioria dos brasileiros, e arrisco dizer, a maioria dos médicos discordam disso tudo. Não queremos conflitos com vocês. Sabemos que vêm em paz, com o objetivo de trabalhar, e tenho certeza que estarão seguros e tranquilos, no que depender das pessoas que estarão com vocês.

Mas acho que vocês precisam entender o que está acontecendo no Brasil neste momento. Até para poderem contribuir de verdade com as mudanças sociais que nosso país precisa.

A Atenção Primária, (que aqui no Brasil é mais conhecida por Atenção Básica) nunca foi prioridade de governante algum neste país. Por mais que tenhamos observado uma expansão importante da rede de serviços de Atenção Primária nos últimos 20 anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não consegue cobrir nem metade da população brasileira com estes serviços. Isso acontece porque ainda não conseguimos vencer o debate sobre qual a melhor forma de organizar o SUS. Neste debate, entra a discussão sobre a necessidade de mais médicos, e aqui vale apontar alguns de nossos problemas:

1) Sub-financiamento: o Brasil investe, per capita, bem menos que a grande maioria dos países que assumiram o desafio de ter um sistema de saúde de acesso universal). Além de termos pouco dinheiro, pouco dele vai para a Atenção Primária (menos de 10% dos investimentos estatais em saúde);

2) Contratação descentralizada: o Brasil tem 5.560 municípios, e cada um deles precisa desenvolver sua estratégia para atrair bons profissionais, o que gera uma atmosfera que ultrapassa a competição saudável e atinge padrões predatórios, onde quase sempre quem perde é a população;

3) Falta de profissionais médicos, em termos quantitativos e qualitativos: embora estudos mostrem que em duas ou três décadas atingiremos um bom número proporcional de médicos, até lá lidamos com a falta de profissionais mesmo nos grandes centros urbanos. Além disso, não há uma política de estado que direcione a nossa formação para as áreas que mais precisamos, o que piora a distorção;

4) Estrutura precária de trabalho: por não ser prioridade, a Atenção Primária nunca recebe os investimentos necessários para que possa oferecer condições adequadas de trabalho. Lidamos o tempo todo com falta de medicamentos (na unidade de saúde onde trabalho falta Enalapril e Ibuprofeno há quase dois meses, só para citar dois exemplos), de exames (um relato: com frequência o laboratório “esquece” de dosar a hemoglobina glicada das pessoas com diabetes que fazem exames, e só manda os outros resultados) e de consultas com outros especialistas (uma consulta com um cirurgião-geral para resolver uma hérnia inguinal demora cerca de 4 meses, por exemplo).

5) Não existem estratégias de fixação de profissionais nos centros mais afastados: a única iniciativa do estado brasileiro nos últimos 20 anos foi exatamente o programa que trouxe vocês, e sabemos bem que não é suficiente para fixá-los aqui.

A maior parte dos brasileiros que critica a vinda de vocês não é contrária exatamente a vocês, e sim a vinda de vocês sem que sejam dadas as respostas a estes problemas que menciono acima. Vocês são a resposta que pode se aplicar a curto prazo, mas nada além disso. Nem nós, nem vocês conseguirão oferecer a medicina que a população brasileira merece e precisa sem estas respostas. Louvamos a sua disponibilidade em tentar, e esperamos profundamente que consigam alguma coisa. Caso consigam desenvolver uma medicina de qualidade neste cenário ficaremos felizes em aprender a fórmula mágica.

Uma outra crítica que vocês poderão ouvir é em relação ao fato de não terem seus diplomas revalidados. Saibam que o argumento do governo brasileiro é que não vão revalidar seus diplomas exatamente para poder mantê-los “presos” aos municípios que vocês escolheram para trabalhar. Não me parece a estratégia que mais valoriza a autonomia das pessoas, mas se vocês concordam trabalhar nestas condições não cabe a mim julgá-los. Eu não trabalharia, mas enfim.

E se você é cubano e já tem alguma experiência em outros países (como o governo brasileiro tem dito que vocês tem), imagino que já esteja acostumado com o desconhecimento que o mundo tem da realidade cubana. Temos ainda uma polarização ideológica no Brasil que envolve segmentos que louvam a "Revolução Cubana" e outros que demonizam a "Ditadura Cubana". Eu e a maioria dos brasileiros estamos no meio destes dois pólos. Me preocupo com alguns relatos de pessoas confiáveis que viram a realidade de vocês em seu país, mas sei que não existe relato isento e me reservo a não julgar o que acontece com vocês neste momento. Saibam que se fizerem um bom trabalho, vocês serão louvados. Mas atentem para a responsabilidade, pois neste momento muita gente estará torcendo para que vocês façam bobagem para ganhar a mídia dizendo “eu não disse que os cubanos não servem?”. Esta perseguição não é pessoal, mas ideológica, e tende a se acentuar considerando que temos eleições presidenciais ano que vem no Brasil. Desejo serenidade a vocês, e boa sorte.



Termino por aqui. Acima de qualquer coisa está o novo povo, e já que foi esse o caminho escolhido pelo governo brasileiro e por vocês, torço do fundo do coração que vocês consigam ajudar este povo. O debate político continuará, e estará observando vocês de perto. Boa sorte.”

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