domingo, 29 de setembro de 2013

Irã, a ponta de muitos nós - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 29/09
Abertura aparente do novo presidente oferece a chance de resolver mais de uma crise no Oriente Médio

Em um mundo carregado de tragédias, o degelo EUA/Irã, simbolizado pelo telefonema de Barack Obama a Hasan Rowhani, oferece a melhor chance em anos de encaminhar soluções para problemas em todo o Grande Oriente Médio.

Não é só uma eventual saída para o impasse do programa nuclear iraniano, que, não encaminhado, deixa a sombra permanente de um conflito militar, até porque Obama agarra-se ao mantra de "todas as opções estão sobre a mesa", ameaça nada velada de um ataque para impedir que o Irã chegue à bomba.

Sem falar de Israel, cujos dedos coçam para atacar o Irã antes de que o programa nuclear ponha a bomba ao alcance.

Só desatar esse nó já seria um bom motivo para festejar o promissor início de conversas entre os EUA e o Irã, depois de 34 anos de pendências.

Mas pode haver mais efeitos colaterais, como deixa claro Fred Kaplan, colunista da "Slate".

"Durante anos, muitos observaram que os problemas no Oriente Médio estão tão intrincadamente relacionados que seria difícil resolver um deles isoladamente. Obama tem diante de si uma rara convergência de eventos, fatores e forças, graças à qual pelo menos alguns desses problemas podem ser atacados simultaneamente."

É claro que há riscos em embarcar em um otimismo exagerado em relação às reais intenções do novo presidente iraniano, Hasan Rowhani. Um deles é apontado por Max Boot, pesquisador-sênior do Council on Foreign Relations:

"Khamenei [o líder supremo iraniano] parece estar calculando que os EUA estão tão fracos agora (vide recentes eventos na Síria) que levantarão as sanções [que pesam sobre o Irã] e aceitarão as ambições iranianas de dominar o Oriente Médio em troca de uma redução cosmética no seu desenvolvimento nuclear".

Pode ser, mas outro pesquisador do Council, Stewart Patrick, sugere aceitar o jogo no pressuposto de que, "na diplomacia, como em muita coisa na vida, não arriscar é não ganhar".

Arriscar pode, por exemplo, trazer o efeito colateral de ajudar na crise síria. O Irã já se ofereceu como mediador entre o ditador Bashar Al-Assad e a oposição. Não é um mediador confiável porque ajuda o ditador com armas e homens, mas é um sinal de que quer trazer o conflito para o terreno que todos, Brasil inclusive, dizem ser o único possível: a negociação política.

Arriscar é, como contrapartida, correr o risco de que Rowhani seja outro Mohammad Khatami, o moderado que se elegeu presidente em 1997, prometendo uma abertura que não saiu do lugar pelo cerco a que foi submetido pelos conservadores, a linha dura do regime.

Mas "Etemaad" (Confiança), uma das raras publicações reformistas que sobreviveu no Irã, permite-se o otimismo de observar que "há uma diferença muito importante entre hoje e aquele momento [a ascensão de Khatami]: parece que Rowhani pôde obter a confiança e o apoio [dos conservadores]", o que jamais ocorreu com seu antecessor reformista.

Um pouco de otimismo faz bem ao mundo em que vivemos, nem que seja só para variar.

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