terça-feira, 24 de setembro de 2013

REINALDO AZEVEDO: 'O DISCURSO ELEITOREIRO DE DILMA NA ONU

24/09/2013
 às 16:55

O discurso eleitoreiro de Dilma e, ao menos, uma grande inverdade: o Brasil não está preparado para combater o terrorismo coisa nenhuma!

Vejam no post anterior a síntese do discurso da presidente Dilma Rousseff na ONU. Eis um caso em que a única coisa proibida ao observador é dizer o certo. Como fazê-lo, por estas bandas, é prática que não nos assusta — a mim e aos demais (sem que se precise dizer também a errada, como se Deus e o diabo disputassem almas em igualdade de condições morais) —, então não há como vacilar: o discurso de Dilma faz um elenco de, digamos assim, tautologias sobre a soberania dos países, mas com maus propósitos. O arquivo está aí. Desde o primeiro dia, observei que havia uma superestimação da dita “espionagem” e que o governo usaria a questão para incentivar o antiamericanismo bronco e nossa vocação para falar grosso — e inutilmente — com Washington e fino, por exemplo, com a Bolívia.
Como poderia dizer o letrista Caetano Veloso, seu discurso “não é proveito, é pura fama”. O Brasil, com o apoio da Alemanha, pediu que a ONU debatesse a questão da espionagem na semana passada. Fez-se a reunião em Genebra. Foi escolhida para nos representar uma diplomata de baixo escalão, que acabou nem comparecendo à reunião. Em seu lugar, foi enviada uma estagiária, que entrou muda e saiu calada. Logo, é evidente que tanto a cúpula do governo como a do Itamaraty sabem que essa história não tem importância e que há uma superestimação do ocorrido.
Mas como resistir a fazer um discurso babando antiamericanismo verde-amarelo? Parece mesmo irresistível. Dilma foi lá e botou “uzamericânu” do seu devido lugar. Não se limitou a adjetivos e perorações. Também anunciou ao menos uma inverdade clamorosa: “O Brasil sabe se proteger; repudia, combate e não dá abrigo a grupo terrorista”. Cada um desses verbos, entre a sinonímia e a gradação, é contestado pelos fatos.
O Brasil não repudia, por exemplo, o terrorismo das Farc na Colômbia. Não chega ao desplante de reconhecer os narcoguerrilheiros como “grupo beligerante”, mas jamais reconheceu seu caráter terrorista — o mesmo vale, aliás, para o terrorismo árabe em Israel. Então não é verdade que repudie o terrorismo como princípio. É duro dizer, mas é assim. Também não é fato que o combata. E a razão é simples: o país não dispõe de uma lei para tanto; nem sequer existe prescrição penal para tal crime. A Constituição repudia a prática, sim, mas nosso Código Penal é omisso a respeito. Está em debate no Senado um novo código, que especifica pena para atos dessa natureza — desde que os autores da violência não sejam movimentos sociais. Ah, bom!
O Brasil já libertou um homem com comprovadas ligações com a Al Qaeda porque não tinha o que fazer com ele. Claro, claro… Com um pouco de boa vontade, seria possível enquadrá-lo. Mas sabem como é… Os companheiros acham que esse negócio de combate ao terror é coisa lá “duzamericânu”. A Tríplice Fronteira, há uma porção de evidências, já foi infiltrada pelo terrorismo islâmico. É uma forma de abrigo, nem que seja motivada pela incompetência. Dilma se esqueceu de dizer em seu discurso que, em razão da Copa do Mundo, o serviço, de vá lá, “Inteligência” do Brasil está a receber informações da demonizada Agência Nacional de Segurança. Logo, o país é beneficiário do monitoramento feito pelos EUA.
É novidade?
O que há mais a dizer fora da retórica, no terreno do realismo? Espionagem não é o tipo de coisa regulamentada por leis internacionais, segundo as regras de um cartório. Se fosse, o primeiro a se beneficiar do aparelho burocrático seria o próprio terrorismo. Assim, ele se move mesmo nas sombras. Rússia e China não fazem de modo diferente. A natureza da ação permite que, de vez em quando, um tipo ordinário como Edward Snowden saia do controle e faça o que fez. “Mas você não acha que um protesto era necessário?” Acho, sim! Mas é evidente que discursar a respeito na ONU é coisa de mediocridade arrogante. Então são os EUA que ameaçam a paz mundial? A julgar pelo discurso da mais importante, malgrado as próprias qualidades, governante latino-americana, sim! E é preciso ser um perfeito idiota para acreditar sinceramente nisso.
Por Reinaldo Azevedo

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