terça-feira, 29 de abril de 2014

Professores do ensino médio não têm formação adequada - PROFESSORES, NÃO DEIXEM DE LER: ENTREVISTA COM SIMON SCHARTZMAN

TERÇA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2014

Professores do ensino médio não têm formação adequada

Mais da metade dos professores de ensino médio não têm licenciatura nas disciplinas em que atuam. Leia entrevista do sociólogo Simon Schwartzman ao Instituto Millenium:


Dados do Censo Escolar 2013, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), mostram que 51,7% dos professores do ensino médio no Brasil não têm licenciatura na disciplina em que atuam. Outros 22,1% dos docentes que estão à frente das turmas do país não contam com qualquer licenciatura. A baixa qualificação dos professores se reflete na má formação dos estudantes e profissionais do país.

Para o sociólogo Simon Schwartzman, especialista em educação, o nível da formação oferecida pelas universidades nacionais preocupa mais do que o fato de haver docentes sem diplomas. “O problema não é tanto que existam professores sem nível superior e sim o baixo nível da qualificação desses profissionais”, opina.

Simon aponta outros problemas do ensino como a má remuneração dos professores, a falta de curso integral, a existência de aulas noturnas no ensino médio, etc. Ele defende o aumento dos investimentos no setor. “Acho que cabe o esforço de aumentar o gasto em educação. O importante é ter certeza de que esse aumento será acompanhado de políticas adequadas para que o dinheiro seja bem utilizado”, explica. Leia a entrevista:

Instituto Millenium: Quais são os reflexos da má formação dos professores sobre os alunos? O baixo desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), por exemplo, é fruto da falta de formação dos professores?

Simon Schwartzman: Se o professor não tem formação na área em que atua não está apto a ensinar, por mais que tenha apoio de livros e materiais pedagógicos. O Pisa, evidentemente, reflete isso. A qualidade do docente é um fator decisivo para a avaliação.

Imil: Segundo o Censo 2013, nos anos finais do ensino fundamental 21,5% dos professores não têm qualquer formação superior e 35,4% não cursaram licenciatura. Estudos do Ensino Superior e Pesquisa em Negócios, Economia e Direito (Insper), de 2011, apontaram que o nível fundamental é um período decisivo para a formação dos jovens. A qualidade das universidades brasileiras também é prejudicada pelo despreparo dos docentes?

Schwartzman: Os cursos superiores de formação de professores não preparam os docentes adequadamente. Em outras palavras, o problema não é tanto que existam professores sem nível superior e sim o baixo nível da qualificação desses profissionais.

Imil: Em março, uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), feita em parceria com tribunais de contas estaduais, já tinha indicado carência de 32 mil professores com formação específica nas 12 disciplinas obrigatórias do nível médio. Essa carência de professores sinaliza para uma profissão que vem sendo desvalorizada no país. Como podemos reverter esse quadro?

Schwartzman: Há médio e longo prazo, dependerá, entre outras coisas, de um nível salarial mais alto. Hoje em dia, os salários dos professores são mais baixos do que em outras profissões com nível superior. Mas não basta aumentar os vencimentos. Também é preciso melhorar a qualidade da formação. Dito isso, é preciso notar que quando são abertos concursos para professores há sempre muitos candidatos. Muita gente busca esse tipo de emprego devido à estabilidade do serviço público.

Imil: A valorização dos professores é uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), no entanto, outra meta é o gasto de 10% do PIB com educação. Gastar 10% está acima da média do mundo e de países desenvolvidos, que nem em momentos de expansão da educação gastaram tanto. Como o senhor enxerga a situação?

Schwartzman: As carências são inegáveis. É preciso oferecer ensino em tempo integral e acabar com os cursos noturnos do ensino médio. Esses problemas são muito sérios. Tudo isso requer muito dinheiro. O Brasil não gasta 10% e sim 5% do PIB em educação, mas é evidente que o cálculo é feito em cima de uma renda que não é muito alta. Os países desenvolvidos gastam uma proporção parecida, baseados em uma renda muito mais alta que a do Brasil. Acho que cabe o esforço de aumentar o gasto em educação. O importante é ter certeza de que esse aumento será acompanhado de políticas adequadas para que o dinheiro seja bem utilizado. (Imil).

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