sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Orgulho roubado - MERVAL PEREIRA 12.12.2014

 Para aumentar ainda mais o vexame da CPI mista do Congresso, que um dia antes divulgara o escabroso relatório do deputado petista Marcos Maia tratando com ligeireza cúmplice o escândalo da Petrobras, o Ministério Público Federal apresentou ontem as primeiras denúncias contra 35 investigados pela operação Lava Jato, sendo que desses 22 são executivos de seis empreiteiras que faziam parte de um cartel formado para lesar as licitações com o conluio de diretores da estatal.

Todos dessa primeira leva fazem parte do núcleo do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, também denunciado juntamente com o doleiro Alberto Youssef. As acusações são de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e corrupção, abrangendo o período de 2004 a 2012 da Diretoria de Abastecimento da Petrobras. 

As denúncias do MPF foram protocoladas na sede da Justiça Federal do Paraná, em Curitiba, e serão apreciadas pelo juiz Sergio Moro, responsável pelo caso, que decidirá se será aberto processo criminal contra os acusados. Pelas palavras duras do Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, há elementos suficientes para a abertura de processo criminal: “uma aula de crime”, foi como se referiu aos fatos narrados na denúncia, e a complexidade do esquema descrito leva a que se tenha uma idéia clara da dimensão desta investigação.

Janot não se furtou nem mesmo a dar tons épicos aos acontecimentos, antecipando qual será sua linha de ação na denúncia: "Essas pessoas roubaram o orgulho dos brasileiros", afirmou, referindo-se à Petrobras, retirando dos que participaram das transações ilegais a possibilidade de usarem como escudo protetor a própria estatal que assaltaram.

Como fizeram questão de ressaltar os procuradores, este é o primeiro pacote de acusações, e outros se seguirão. Obedecendo a um esquema previamente traçado, os procuradores estão deixando para o final as denúncias contra os políticos acusados, que têm foro privilegiado e têm que ser investigados pelo Supremo Tribunal Federal.

O problema político que a denúncia dos muitos parlamentares ocasionará já teve uma demonstração no relatório da CPMI, que fez questão de não citar nenhum parlamentar, mesmo que o deputado André Vargas, petista de corpo e alma que teve que abandonar a legenda, mas não foi abandonado por ela, tivesse sido cassado pelo plenário da Câmara no mesmo dia.

Várias manobras foram tentadas por companheiros petistas para inviabilizar a sessão de julgamento, mas como o voto deixou de ser secreto, quando foi impossível não votar sem se comprometer, o deputado associado ao doleiro Youssef perdeu seus direitos políticos.

Os demais envolvidos, como os da leva de ontem, serão julgados pela Justiça Federal. O Ministério Público Federal deixou claro que está trabalhando para interromper a impunidade “de poderosos grupos que têm se articulado contra o interesse do país há muitos anos", como definiu o procurador Deltan Dallagnol, que frisou que há indicações de que o esquema atinge outras obras públicas.

Para se ter a idéia do tamanho do esquema de corrupção desbaratado, que a CPI dominada pela base aliada e relatada pelo petista Marco Maia não identificou, num ato vergonhoso que achincalha o Congresso, os procuradores exigem nas ações penais a devolução de R$ 971,5 milhões apenas nesse núcleo. Outros núcleos, como o da Diretoria de Serviços, comandada por Renato Duque, preposto do PT na Petrobras, serão objeto de novas denúncias nos próximos dias.

Pela disposição dos procuradores, e pelos fatos já levantados nas investigações baseadas em diversas delações premiadas, será difícil que essas denúncias não produzam condenações exemplares. Apesar da pressão que, a exemplo do mensalão, o PT e o ex-presidente Lula já começam a fazer.

Pedro Go

Ontem foi a missa de sétimo dia do jornalista Pedro Gomes, com quem trabalhei no Globo. Homem culto, grande redator, Pedro era um pessimista por natureza. Tudo para ele teria que dar errado. Certo dia, lendo no jornal a notícia da morte de um antigo jornalista, queixou-se com Otto Lara Resende do tamanho da notícia de falecimento, pequena na sua avaliação. Otto, um gozador nato e conhecendo bem o pessimismo de Pedro, disse: “Quando você morrer, não vai ter espaço nem para escrever seu nome. Vai sair assim: morreu Pedro Go. Não foi o que aconteceu. Pedro Gomes mereceu generoso obituário, justificado pelo jornalista que foi.

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