domingo, 24 de maio de 2015

FHC diz que corte no Orçamento é consequência da má gestão do PT

• Ex-presidente pediu convergência nacional para superar a crise em palestra que contou com a presença de ex-ministros do STF

Luiza Damé – O Globo

BRASÍLIA — De passagem pela capital para fazer uma palestra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o corte no Orçamento da União de R$ 69,9 bilhões é consequência da má gestão do PT nos últimos anos. Para Fernando Henrique, ao fazer o contingenciamento, o governo da presidente Dilma Rousseff está pagando seus próprios pecados. O ex-presidente cobrou ações complementares do Palácio do Planalto após o anúncio da restrição de gastos públicos para que a população não fique vendo somente "nuvem negra" no horizonte.

— O Brasil foi tão mal governado nos últimos anos que o corte é consequência disso. A situação fiscal é de tal maneira difícil, e foi consequência de erros dos governos, que agora, com esse corte, o governo está pagando seus próprios pecados e vai ter que tomar medidas de contenção, como está tomando. A crítica que posso fazer não é à contensão, é que é uma espécie de operação sem anestesia. Quando você faz uma contenção fiscal tem de explicar ao país o que vem depois, para que você faz, qual é a esperança, qual é o horizonte. Agora só estamos vendo nuvem negra. Aí as pessoas ficam irritadas e não aceitam — afirmou Fernando Henrique, em entrevista após a palestra.

O ex-presidente falou por duas horas para estudantes e convidados de uma universidade particular do Distrito Federal. Cerca de 200 pessoas, incluindo os ex-ministros do Supremo Tribunal Federal Ayres Brito e Francisco Rezek, ouviram Fernando Henrique falando sobre o futuro do Brasil. Ele fez um retrospecto político e econômico do Brasil e do mundo desde os anos 1960, provocou risos na plateia e foi interrompido com aplausos. Também deu a sua versão sobre tropeços na época em que era presidente. Ao falar sobre indicadores sociais, lembrou do evento no BNDES, em que chamou os aposentados de vagabundos. Ontem, disse que, na realidade, queria dizer marajás.

Fernando Henrique apontou como caminho para o país o investimento nas áreas de energia, infraestrutura e educação, além da reforma política. O ex-presidente criticou a política econômica dos governos petistas, argumentando que foi definido um rumo, mas não a dosagem. Para ele, as medidas anticíclicas adotadas pelo governo para combater a crise econômica eram necessárias, mas houve um exagero na concessão de crédito.

— Em política econômica não adianta só ter o rumo, tem que ter rumo e aprender a dosar. Há momentos em que não dá para continuar: freia, espera, vai retomar mais adiante — disse o ex-presidente.

Ao tratar da questão energética, Fernando Henrique avaliou que os problemas da Petrobras decorrem mais de erros de estratégia e de clientelismo do que da corrupção. Ele lembrou que, no seu governo, os estados do Ceará, de Pernambuco e do Maranhão reivindicaram a construção de refinarias, mas a Petrobras deu parecer contrário, e as obras não saíram.

— O presidente Lula mandou fazer todas, mais a do Rio. Não é a Petrobras que erra. É político. Aceita a pressão. Foi erro, jogo político, clientelismo — afirmou.


O ex-presidente reconheceu que o país evolui nos últimos tempos, mas defendeu uma mobilização nacional para superação deste momento de crise. Fernando Henrique fez a plateia cair na gargalhada ao dizer que essa proposta não significa que queira aderir ao governo Dilma.

— Não está claro se vamos pegar um caminho certo. Estou sentindo a falta de liderança, a fata de determinação e tem que fazer alguma convergência. Quando falo disso, sou criticado porque estou querendo aderir ao governo da Dilma. Estou falando de convergência nacional. Pode ficar cada um no seu canto — disse.

Questionado sobre a posição do PSDB em relação ao impeachment, Fernando Henrique afirmou que para um processo político de afastamento da presidente são necessárias "provas cabais". Em compensação, o ex-presidente vê possibilidade de prosperar a ação por crime comum em razão das chamadas "pedaladas fiscais" feitas por Dilma para equilibrar a contas do governo.

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