segunda-feira, 20 de julho de 2015

O pouso conjunto no pântano confirma que Lula e Collor nasceram um para o outro - AUGUSTO NUNES



ATUALIZADO ÀS 14H35
No fim de 1992, pouco depois do despejo de Fernando Collor, o radialista Milton Neves quis saber o que Lula achava do adversário escorraçado do gabinete presidencial por ter desonrado o cargo. “Você tem pena de Fernando Affonso Collor de Mello?”, pergunta o entrevistador no começo do áudio. O parecer de Lula merecia ser transmitido toda semana em cadeia nacional de rádio e TV. Sempre valerá a pena ouvir de novo o que se segue:
“Tenho. Não é que eu tenho pena. Como ser humano eu acho que uma pessoa que teve uma oportunidade que aquele cidadão teve de fazer alguma coisa de bem para o Brasil, um homem que tinha respaldo da grande maioria do povo brasileiro, ou seja. E ao invés de construir um governo, construir uma quadrilha como ele construiu, me dá pena, porque deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor.
Efetivamente eu fico com pena, porque eu acho que o povo brasileiro esperava que essa pessoa pudesse pelo menos conduzir o país, se não a uma solução definitiva, pelo menos a indícios de soluções para os graves problemas que nós vivemos.
Lamentavelmente a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar corrupção, fez com que o Collor jogasse o sonho de milhões e milhões de brasileiros por terra.
Mas de qualquer forma eu acho que foi uma grande lição que o povo brasileiro aprendeu e eu espero que o povo brasileiro, em outras eleições, escolha pessoas que pelo menos eles conheçam o passado político”.
Quase 17 anos depois, o abraço de urso no palanque em Palmeira dos Índios informou que os antagonistas do século passado se haviam tornado amigos de infância. Em julho de 2009, de novo no interior de Alagoas, Lula renegou publicamente o diagnóstico gravado por Milton Neves — e comunicou que o antigo pecador se convertera num exemplar servidor da pátria.
“E eu quero aqui fazer justiça ao comportamento do senador Collor e do senador Renan, que têm dado uma sustentação muito grande aos trabalhos do governo no Senado”, aparece Lula dizendo no vídeo de 18 segundos. O afago retórico em Collor prorrogou por prazo indeterminado o contrato de casamento celebrado em outubro de 2008. O descaramento dos noivos vai merecer um post à parte.
Escalados para pagar a conta do enlace, só perderam os pagadores de impostos. Lula ganhou um aliado incondicional e um impetuoso líder da bancada do cangaço. Collor ganhou duas diretorias da Petrobras Distribuidora (e logo ganharia um diploma de doutor em propina). O elenco do Petrolão ganhou a companhia de dois presidentes da República. A Polícia Federal ganhou uma dupla de ilustres investigados.
O Ministério Público e o Judiciário não podem perder a chance de ganhar o respeito do Brasil decente. Para tanto, só precisam ensinar a Collor e Lula que ex-governantes merecem o mesmo tratamento dispensado a ex-governados que afundam em delinquências. Pouco importa o que foram. Devem ser julgados pelo que são: dois reincidentes sem remédio.

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