sexta-feira, 21 de agosto de 2015

“A voz do dono” e outras cinco notas de Carlos Brickmann

CARLOS BRICKMANN
De acordo com a propaganda oficial, foi uma pequena manifestação, de brancos ricos, que aliás nem sabiam o que estavam fazendo por lá, todos golpistas, fascistas, xenófobos, conservadores, coxinhas, pedófilos, antropófagos e feios. Em resumo, nada de importante: passou a manifestação e a vida continua. Mas:
1 - Na noite do dia 16, tão logo terminou a manifestação, Dilma convocou seu Estado-Maior para discutir o que fazer. Os ministros Aloizio Mercadante, Jaques Wagner, José Eduardo Cardozo e Edinho Silva não ousaram entrar pela porta da frente do Palácio da Alvorada: preferiram uma porta lateral, mais discreta. Jornalistas? Nem Aloizio Mercadante, que é capaz de trocar três retratos de Lula Supremo por uma foto com Dilma, que quando abre a geladeira e vê a luzinha já começa a dar entrevista, não quis contato com repórteres, por mais amigos que fossem. A propósito, dos quatro ministros que formam o núcleo deste governo, Lula só gosta de um, Wagner. Lula, se fosse gato, cobriria de areia os outros três.

2 - Fernando Henrique, o Imperador da Cautela, o Rei do Deixa-pra-lá-para- ver-como-é-que-fica, imoderado em sua moderação, pediu à presidente Dilma um gesto de grandeza ─ a renúncia ao cargo. Ou, no mínimo, que admitisse seus erros e mostrasse o caminho para recuperar a credibilidade. Fernando Henrique sabe que é mais fácil Dilma admitir ter sido amiga de José Dirceu (Dirceu? Quem?) do que reconhecer que algum dia cometeu algum erro. Propôs-lhe, portanto, a renúncia.
E jamais seria ousado a esse ponto sem ouvir a voz das ruas.
Sinal fechado

Nem Dilma nem seus ministros prediletos fizeram qualquer comentário sobre a manifestação. Não, não foi uma maneira de demonstrar desprezo: foi o receio do panelaço que receberia suas palavras. Manifestação e panelaço, aí já é demais.

Salvando o seu

Fora o núcleo duro do governo, Dilma tem mais alguns aliados para conversar sobre os próximos passos. Lula, claro ─ embora não dê a atenção devida a seu padrinho político, que entende do jogo muito mais do que ela. Velhos amigos, como Gleisi Hoffman, Erenice Guerra, Graça Foster não podem, por um ou outro motivo, participar abertamente de articulações. Há Renan Calheiros, Romero Jucá (detesta ambos, mas tem de engoli-los), Michel Temer (não gosta dele, mas sabe que é importante para ela); todos, entretanto, conforme a situação, não hesitariam um instante para transformar-se em adversários. 
Lula não se transformaria em adversário. Já mostrou, porém, que não é chegado a defender amigos em perigo. Não se voltará contra ela, mas nem lembrará que Dilma existe.

Histórias exemplares

A história do aluguel de veículos nos Estados Unidos mostra direitinho como funcionam as coisas no Brasil: primeiro, mostra como o governo brasileiro não economiza para desfrutar do máximo de luxo; segundo, mostra o desprezo que a presidente Dilma dedica às relações internacionais, a ponto de não se importar em prejudicar a imagem externa do país por cem mil dólares (que, a propósito, nem precisaria gastar). 
A primeira história exemplar é a do aluguel: a comitiva presidencial passaria dois dias (e uma noite) em San Francisco, Califórnia, mas os veículos foram alugados por quinze dias. A própria empresa locadora desaconselhou o aluguel de 19 limusines, mais dois ônibus, mais três vans Mercedes, mais um caminhão “para transporte das bagagens”. Sugeriu carros para a presidente e os ministros e ônibus para o transporte dos demais passageiros. Negativo: até a filha da presidente teve limusine privativa, com motoristas e tudo. E como não há verba para pagar esse luxo todo, calote no fornecedor. Só honraram a conta quando o dono da empresa foi aos jornais para reclamar. 

- A presidente Dilma não dá a menor importância às relações exteriores. Já houve ocasiões em que as contas de luz e água das embaixadas não foram pagas; houve um caso (que ficou famoso pela desfeita ao embaixador da Indonésia) em que diplomatas estrangeiros ficaram no Brasil quase um ano, sem poder trabalhar, porque a presidente não encontrava tempo para receber suas credenciais. 

É luxo só

O exemplo vem de cima, e frutifica: o Tribunal de Justiça do Estado do Rio decidiu gastar R$ 23 milhões em 246 carros Jetta para seus magistrados. Crise? Que crise? Corte de verbas? Que é que o caro leitor está pensando? 

Em São Paulo, Assembleia e Câmara também cuidam do conforto de seus integrantes.

Governo acuado

O Movimento dos Trabalhadores sem Terra, MST, invadiu nesta segunda uma fazenda experimental da Universidade de São Paulo, em Londrina, no Paraná. A fazenda, com 3.700 hectares, tem área de preservação ambiental em um terço de sua extensão, com floresta original, e trabalha na recuperação de matas degradadas. Graças a suas pesquisas agropecuárias, ocupa a terra com o triplo do gado de corte normalmente suportado. O MST alega que a fazenda é improdutiva.
Detalhe para quem reclama que estudantes brasileiros que subiram na vida não se lembram de suas universidades: a área, conhecida como Mata do Barão, foi doada à USP no ano 2000 por um ex-aluno, Alexandre Von Pritzelwitz.

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