segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

É muito maior do que parece – Editorial / O Estado de S. Paulo



É perturbador observar como brotam em profusão os casos de corrupção no governo petista, tornando legítima a convicção de que, para encontrar algum crime contra a administração e os cofres públicos, basta procurar. Confirma-se agora, graças ao trabalho da Receita Federal, a suspeita, há muito no ar, segundo a qual os escândalos não se limitam ao petrolão – já em si de inaudita dimensão –, assim como não se limitavam ao mensalão.

Entraram na mira das autoridades os contratos de obras e serviços em outras áreas, como energia, transporte e saneamento básico. Se os indícios até aqui reunidos se comprovarem, o País terá finalmente a certeza de que a corrupção, desde que o PT chegou à Presidência, deixou de ser apenas acidental ou eventual para se tornar um método em que o sistemático assalto aos cofres do Estado serve para financiar a manutenção dessa turma no poder.

Reportagem do jornal Valor (19/2) mostra que auditores da Receita já identificaram pagamentos feitos por operadores a empresas de fachada, para desviar recursos de contratos públicos, usando um esquema idêntico ao que depenou a Petrobrás e beneficiou políticos, partidos governistas e diretores da estatal.

Esses casos, detectados recentemente pela Receita, começaram em 2011. A força-tarefa da Operação Lava Jato já foi devidamente informada sobre essa investigação, pois parece claro que se trata do mesmo plano de atuação. O Fisco calcula que ainda fará 100 fiscalizações relativas à Lava Jato, com o objetivo de investigar pessoas e empresas que ainda não foram objeto de averiguação. Isso significa que o escopo do escândalo, tanto em relação aos setores administrativos atingidos quanto às pessoas e empresas envolvidas, tende a ser muito maior do que o apurado até agora.

“Com o aprendizado da Lava Jato, enxergamos o conjunto das operações”, disse ao Valor o subsecretário de Fiscalização da Receita, Iágaro Jung Martins. “Algumas pessoas fazem um esforço para esconder. Mas, com esse volume extraordinário de informações geradas, em algum momento os vínculos ficam evidentes. A gente não olha apenas um CPF, mas a árvore de relacionamentos”, explicou Martins.

Para dar conta de tamanha rede de corrupção, a Receita destacou 77 auditores, dedicados ao trabalho de entender as relações entre as empreiteiras, as empresas que prestam serviços de fachada para justificar movimentações financeiras, as empresas que servem apenas para emitir notas fiscais, os políticos e os operadores do esquema – doleiros e funcionários de estatais.

Não é de hoje que se supõe que o petrolão seja apenas parte da roubalheira. Em março de 2015, o juiz Sergio Moro, que atua na Operação Lava Jato, informou que fora encontrada em poder do doleiro Alberto Youssef, um dos pivôs do escândalo na Petrobrás, uma planilha que relacionava cerca de 750 obras públicas que estariam contaminadas pela ladroagem.

Na época, Moro qualificou o documento como “perturbador” e disse que, com o aprofundamento das investigações, seria possível comprovar se “o esquema criminoso de fraude à licitação, sobrepreço e propina vai muito além da Petrobrás”. O esforço conjunto da Receita Federal e da Operação Lava Jato provavelmente trará respostas para essa tenebrosa indagação de Moro, mas já é possível antecipar, dado o que se sabe até aqui, que a decomposição do decoro administrativo causada por esse monumental esquema criminoso é generalizada.

A boa notícia em meio a esse quadro desolador é que as autoridades responsáveis pela fiscalização e pela aplicação da Justiça não se têm deixado intimidar pela pressão dos petistas contra seu trabalho – é preciso recordar que o chefão do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, já declarou, inclusive em juízo, que as investigações da Lava Jato que atingem o governo e os petistas fazem parte de um “processo de criminalização” de seu partido. Prestes a constatar que a corrupção no governo petista é de fato endêmica, os investigadores têm o dever de ignorar as bravatas lulopetistas e ir até o fim.

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