terça-feira, 14 de março de 2017

"Caixa 2 é coisa de bandido. Ponto", por Clóvis Rossi


"Caixa 2 é coisa de bandido. Ponto", por Clóvis Rossi

Janine Costa/Reuters
Fundo Brookfield está perto de comprar a participação da Odebrecht em gasoduto no Peru
Fachada da sede da construtora Odebrecht


Folha de São Paulo
Já houve antes, em 2005, uma conspiração para proteger os corruptos daquele momento, semelhante à que agora promovem PSDB, PMDB, PT e vários outros —prova cristalina de que são todos farinha do mesmo saco.

Torturam os fatos e a mais elementar lógica para tentar demonstrar que caixa 2 é uma atividade, digamos assim, natural, corriqueira até.

Que é corriqueira, prova-o definitivamente a afirmação de Emílio Odebrecht, patriarca afastado da notória empreiteira, segundo quem trata-se do "modelo reinante" na política desde sempre.

Esse desde sempre abrange, pelo tempo de vida da Odebrecht, também o período do regime militar, o que deveria servir para que os que ainda têm cérebro mas, mesmo assim, querem a volta dos militares, percebam que corrupção não distingue farda de terno.

Naquele já remoto 2005, no entanto, surgiu a voz de um notável advogado, Márcio Thomaz Bastos (morto em 2014), para produzir uma frase impiedosa mas perfeita: "Caixa 2 é coisa de bandido".

Ajuda-memória: Márcio era ministro da Justiça do governo do PT, o partido que, naquela época, era o mais afetado pelo escândalo (o do mensalão) e o que mais se batia pela tese de que tudo não passava de um inocente caixa 2.

Agora, não há uma voz tão respeitável e potente para evitar que prospere o fato alternativo de que caixa 2 não é coisa de bandido.

Vem, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso para tentar separar o que é crime (corrupção) do que é "erro" (caixa 2). Falso. Caixa 2, se é coisa de bandido, como de fato é, não passa de coisa de bandido.

Se vai para o bolso dos beneficiados ou para o caixa de campanha, tanto faz, é uma vantagem indevidamente concedida a quem recebe o dinheiro.

Vem também Aécio Neves, o presidente do PSDB, para reclamar que a "criminalização" da política vai acabar provocando o surgimento de um "salvador da pátria".

Um caso cínico de confundir causa e consequência: o que pode provocar o nascimento de um "salvador da pátria" é o fato de que os políticos, com exceções raras, estão eles próprios criminalizando a política e ainda tentando blindar quem pratica os crimes.

Se a própria Odebrecht, a rainha do caixa 2 e da propina, confessa, em nota oficial, ter participado "de práticas impróprias em sua atividade empresarial", como é que alguém que se beneficiou de tais práticas pretende sair limpo?

Se Márcio Thomaz Bastos fosse vivo, diria que "práticas impróprias" é coisa de bandido. E tudo estaria dito.

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