sexta-feira, 7 de abril de 2017

GIORDANO BRUNO: SUPER DESINTERESSANTE - ,MATEUS DE CASTRO

A revista da Abril cai numa historieta comum sobre Giordano Bruno para atacar a Igreja Católica. Quem era de fato o mais famoso dos hereges?
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Um jovem some no Acre. Em sua casa são encontradas mensagens em código, escritos que prometem “mudar o mundo” (conte uma novidade pelo menos nesses escritos, porque essa promessa é velha); quadro dele com um ET; e uma estátua de Giordano Bruno, seu ídolo e xará. O que é realmente preocupante é que o jovem sumiu! Sumiu deixando essa longa lista de nada de novo. Encontrem o rapaz primeiro, depois o elevem a profeta New Age!
No entanto, qual é a primeira coisa que uma revista decadente chamada “Super Interessante” (para quem?) escreve sobre o caso? Algo para baixar o sarrafo na Igreja Católica! A chamada diz: “Em uma era de opressão da Igreja Católica, o filósofo italiano afirmou que o universo é infinito, e que cada estrela tem seus próprios planetas”. Daí por diante, a matéria enumera, com aquele ‘rigor científico’ digno de um encontro de grêmio estudantil ou protesto organizado pela UNE, os muitos supostos méritos de Giordano Bruno, a quem o autor classifica como “filósofo, matemático, astrônomo, poeta e teólogo. Seu currículo é maior que uma nota fiscal de compra do mês”.

Será?

Giordano Bruno nasceu no então Reino de Nápoles, em 1548. Aos 17 anos entrou para a Ordem dos Pregadores, conhecida como os “Dominicanos”, em homenagem ao seu fundador, São Domingos. Durante seu tempo no seminário, Bruno começou a demonstrar sua verdadeira face, a de um aventureiro. Ele não tinha nenhum interesse em teologia católica, ou, de fato, qualquer sistema organizado de conhecimento. Sua disciplina (ou ausência dela) como estudante era desorganizada como o seu pensamento. Ele não tinha ordem, e seu interesse parecia variar com o momento. Na verdade, Bruno era próximo do que poderíamos chamar de um gnóstico em seu método, senão na prática.
A gnose é uma mistura não organizada de pensamentos, e essa é a única aparente regra teórica real das muitas faces da gnose. A face prática é o esoterismo, na forma de seitas iniciáticas. Por não ser parte de uma seita, Bruno dificilmente poderia ser chamado de gnóstico de facto. Porém, seu método de misturar neoplatonismo com pequenos pedaços de filosofia ocidental, oriental, teologias diversas e antagônicas, misticismo e pseudo-ciência, o aproximam do modus operandi dos pensadores gnósticos.
Giordano Bruno só foi realmente reconhecido por uma coisa: o desenvolvimento de métodos ‘mnemônicos’, técnicas de fortalecimento da memória. Ele prometia um método revolucionário que permitiria aos grandes pregadores católicos pregar por horas seguidas, um tipo de viagra para a memória. De tanto insistir que tinha um método, Bruno foi recebido por São Pio V. Porém, como em tudo o mais em sua vida, Bruno se mostrou um charlatão. Ele foi incapaz de explicar ou demonstrar seu suposto método para além de pequenos truques mnemônicos que não se enquadravam perfeitamente nem no termo ‘novidade’. Alguns tentam salva sua pele dizendo que ele não queria revelar seu ‘método secreto’, mas isso seria terrivelmente estúpido, já que foi ele que pediu a audiência com o papa para ficar famoso, sua grande ambição na vida.

Se você for excomungado três vezes, pode pedir música no Fantástico?

Depois de seu primeiro grande fracasso (seriam vários), Giordano Bruno abriu o jogo e expôs sua completa falta de conhecimento teológico e filosófico, e admitiu não acreditar em nada do que a Igreja defendia. Antes de receber uma reprimenda, Bruno foge para a Suíça, onde se declara um Calvinista.
A professora Ingrid D. Rowland, doutora em literatura grega e arqueologia, escreveu uma biografia sobre Giordano Bruno. No livro, a autora explica que Bruno fugiu também por outro motivo, sua vida sexual desregrada. Chegando na Suíça, Bruno “perseguiu mulheres com franqueza Falstaffiana” (Ingrid D. Rowland, Giordano Bruno, Philosopher Heretic). Ao que parece, não era seu apetite intelectual que o diferenciava de seus colegas dominicanos.
Como a maioria dos charlatões, Giordano Bruno era indiscutivelmente carismático. Sua história é de alguém que, por um curto período de tempo, consegue convencer a todos sobre seu conhecimento e idéias revolucionárias. Depois de um tempo, ele era descoberto e era obrigado a fugir. E assim foi na Suíça! Vale notar que a Inquisição Calvinista era muito mais rápida e rígida que a Católica, e Bruno foi excomungado e condenado como herege praticamente sem processo. A fuga foi mais rápida ainda.
A França seria a sua próxima parada. Vendendo o seu peixe bem como sempre, Bruno se torna tutor do monarca, Henrique III. Aparentemente, mais uma vez oferecendo seu “método mnemônico”, a única coisa que ele parecia apresentar mais ou menos com alguma metodologia, ainda que incompleta e confusa.
Com a ajuda de seus colegas de um círculo de poesia e nobres da corte, o destemido charlatão passa por um processo para se tornar professor na prestigiosa universidade de Oxford, na Inglaterra. Mais uma vez, ele falha miseravelmente. Ao ponto de se tornar chacota. Bruno teria apresentado, como sempre, uma mistura do trabalho de vários astrônomos e matemáticos. Acusado de plágio e burrice (sim, de ser idiota) pelo reitor, ele retorna para a França.
Em Paris, Giordano Bruno começa a mostrar sinais de que sua loucura não podia ser controlada. Ele escreve um livro que, de acordo com ele, representava um avanço na filosofia natural. Na verdade, seu ataque a Aristóteles foi mais uma vez ignorado como obra intelectual séria. Seus ataques seriam dirigidos a todos os que riram dele e suas teorias. Matemáticos, astrônomos, filósofos, teólogos etc.
O ‘incompreendido’ Bruno, então, tenta a vida na Alemanha. Nessa época, ele  já assumia abertamente sua mistura de pseudo-intelectualidade com ocultismo. Seus trabalhos sobre a magia e a sua influência no universo são a base da maioria das teses conhecidas do autor sobre cosmologia. As mesmas que hoje são ‘desinfetadas’ para parecer trabalhos científicos sérios. Curiosamente, Bruno consegue enganar a faculdade de Helmstedt, e se torna professor por pouco tempo. Apenas o suficiente para ser excomungado pela igreja Luterana. Temendo por sua vida, o charlatão foge novamente.
Seu único feito até aquele momento era ter conseguido ser excomungado três vezes!

Veneza e a fogueira das vaidades

Rejeitado em todos os lugares, “livres pensadores” como Giordano Bruno só podem culpar a si mesmos por seus fracassos. Mas como é o mais comum, eles culpam os outros. Principalmente, é claro, as instituições e religiões.
Em Veneza, Bruno encontra refúgio na casa de um amigo. O que acontece em seguida se tornou ainda mais claro para os biógrafos modernos: ou Bruno avançou sobre o dinheiro do amigo, ou sobre a mulher dele! Talvez os dois! De qualquer forma, Giordano Bruno foi entregue às autoridades em 1592. Sua obra teológica (sic) era formada apenas de chacota e afronta juvenil. Ele flertava com qualquer heresia para afrontar a Igreja, tendo notoriamente escrito em defesa do Arianismo, uma heresia cristológica.
Como a enorme maioria dos julgamentos da época, o de Giordano Bruno foi encomendado pela autoridade secular, que considerava, não sem razão, Bruno um agitador com laços profundos com outras nações. Seu trabalho era considerado perturbador, mas a monarquia nada podia dizer sobre o conteúdo da sua obra. Esse trabalho, mais uma vez, seria da Santa Inquisição.
Código Marciano do Manual do Escoteiro MirimO julgamento de Giordano Bruno foi inteiramente sobre teologia, como sempre foi o escopo do trabalho dos tribunais inquisitoriais. Nenhum autor honesto pode discordar disso, já que os processos são bem documentados. Ao contrário dos tribunais protestantes, que decidiam imediatamente se a pessoa era um herege ou não, o julgamento de Bruno durou aproximadamente sete anos! Durante esse período, ele teve a oportunidade de travar amplo diálogo com gente altamente qualificada, como São Roberto Belarmino.
Em certo momento do processo, ele quase foi liberado. Porém, ao que parece, a cabeça de Giordano Bruno não era mesmo muito sã. No meio de seu julgamento, ele voltou a assumir a personalidade agressiva e irônica que tantas vezes o atormentou e aos outros. Após voltar atrás e fazer diversas acusações, ofensas, e entrar de cabeça na heresia, Bruno passou à última etapa do processo, quando o acusado pode renegar seus erros.
As possibilidades para quem confessava seus erros eram muitas, como viver enclausurado em um mosteiro, ou ser libertado sob a promessa de não mais escrever, ensinar ou pregar heresia. Nada sobre seu trabalho astronômico ou matemático, apenas teológico. Tendo recusado, Bruno foi declarado um herege e… apenas entregue às autoridades seculares. Nada de punições gráficas, tortura etc. A lei secular foi responsável pela sua condenação à fogueira. Mas foi a sua vaidade que o levou até lá.
Giordano Bruno foi devidamente esquecido durante séculos. Seu trabalho é de uma irrelevância impar. Apenas no século XIX, os filhos do iluminismo, em sua cruzada secularista, decidem usar o autor como um “mártir da ciência”. Após a derrubada dos reinos da Itália, a unificação e a tomada das terras papais, os humanistas italianos erguem a famosa estátua de Giordano Bruno como provocação à Igreja. Daí por diante, o autor, sem qualquer mérito, passa a ser parte de mais uma lenda negra sobre a perseguição da Igreja e o seu ‘ódio à ciência’.
As teorias científicas de Bruno, se retirarmos todo o ocultismo, como os planetas serem sustentados por forças místicas e multiplicados por forças ocultas, não são originais ou revolucionárias. A idéia de que a Igreja combatia a ciência sob a forma do heliocentrismo é ridícula! A Igreja era a grande patrocinadora da ciência! Nicolau Copérnico, formulador do modelo heliocêntrico baseado em pensadores desde Aristarco de Samos, era um padre!
Alguns autores modernistas tentam passar a idéia de que ele foi apenas um coroinha, mas o fato é que Copérnico chegou a ser comunicado da possibilidade de ser elevado ao episcopado, o que seria impossível para um leigo de sua época. No mais, os maiores apoiadores das obras de Copérnico foram os papas Clemente VII e Paulo III, a quem Copérnico dedica sua principal obra “De revolutionibus orbium coelestium“. Quem combatia as idéias científicas de Copérnico, Giordano Bruno, ou Galileu, era a própria ciência da época. A Igreja só se preocupava com a sua teologia.
O falso Giordano Bruno é um mártir da ciência, oprimido pela malvada Igreja Católica por suas idéias avançadas e libertadoras da opressão do obscurantismo religioso. O verdadeiro Giordano Bruno foi um grande charlatão. Alguém que jamais foi levado a sério até a revolução iluminista o escolher como símbolo de sua cruzada secularista.
É uma pena que um jovem esteja desaparecido. Esperemos que o jovem seja encontrado bem e largue seus falsos ídolos. Já do humanismo militante e de seus frutos, tablóides tolos como a Super Interessante, ninguém espera nada.
            Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,
            um Papista.

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